Falta de condições <br>cria desmotivação nos estudantes
A Faculdade de Letras de Lisboa assusta os alunos que lá entram pela primeira vez, com buracos e paredes a cair. Além da falta de condições, os estudantes estão preocupados com a aplicação do Processo de Bolonha. Três estudantes falam da situação.
«Por falta de cadeiras, os professores sugerem que nos sentemos no chão»
A biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa é lendária entre os estudantes do ensino superior da capital. É grande, cómoda, com uma excelente variedade de livros, muitos deles em braile. Mas, as qualidades da Faculdade de Letras ficam praticamente por aqui. Entre a biblioteca e o resto das instalações há um grande contraste: tectos a cair, buracos nas paredes e salas de aula insuficientes para o número de alunos existente.
Três estudantes e membros do colectivo da JCP na instituição fala da situação – Catarina Martins, do 3.º ano de História de Arte; Vanessa Borges, do 3.º ano de Artes do Espectáculo; e Ana Félix, do 1.º ano de Filosofia.
«Os meus colegas falam do choque inicial quando entraram pela primeira vez na faculdade. Era tudo velho, escuro e sombrio. Tem poucas condições e pouca luz», diz Ana Félix. «Isto está mesmo a precisar de obras: há buracos, tectos e paredes a cair... Nas salas da cave está tanto calor que nos sentimos a sufocar. É horrível. Há janelas, mas têm grades e, se abrimos, vem muito barulho da rua.»
Apesar do início das aulas ter sido adiado, as obras nas casas de banho da cave prosseguem. Frequentemente os professores pedem aos operários para parar o trabalho para se fazerem ouvir. «Mesmo assim, não é fácil concentrar-nos», diz Catarina.
As refeições constituem outro problema. Os estudantes podem ir à cantina da Universidade de Lisboa, onde as refeições custam dois euros e incluem o prato, sopa, bebida, pão e sobremesa. Têm de caminhar cinco minutos até lá e depois esperar na fila até ser servido. Ou seja, é muito tempo para quem não tem hora de almoço. As refeições acabam por ser feitas nos vários bares privados da faculdade, onde os preços são muito mais altos. Os pratos custam mais de cinco euros e uma refeição completa fica a oito euros. Quem simplesmente coma uma sandes e beba um sumo paga três euros.
«Em três dias da semana, entro às 8 da manhã e saio às quatro da tarde, sem intervalos entre as aulas. Noutro dia, entro às 8h e saio às 18h, sem pausas», diz Catarina, mostrando como lhe é impossível ir à cantina.
História de Arte e Artes do Espectáculo
Os alunos de História de Arte têm um horário das aulas das várias disciplinas, mas as salas não foram atribuídas. No início de cada hora têm de se juntar no Instituto de História de Arte para saber para onde ir a seguir. Já tiveram aulas numa antiga biblioteca, mas as portas de vidro impediam que houvesse escuro, absolutamente necessário para projectar imagens. «Além disso, com pessoas sempre a passar no corredor, é difícil concentrarmo-nos», conta Catarina Martins.
Muitas vezes têm aulas na sala de mestrado do Instituto de História de Arte, com capacidade apenas para 20 pessoas e com pilares a meio. A turma tem cerca de 40 alunos, fora os que estão inscritos mas que não assistem às aulas com frequência. «A maior parte não vai por falta de espaço. Chegam, vêem que está tudo ocupado e vão-se embora. Os professores sugerem que nos sentemos no chão», recorda Catarina, sublinhando que, com estas condições, os estudantes se sentem desmotivados para ir à faculdade e estudar.
Os alunos de Artes do Espectáculo também não têm a vida facilitada. Este ano, passaram a ter aulas num pavilhão pré-fabricado no Campo Grande. «É melhor equipado, mas até há pouco tempo não conseguíamos ver as projecções de cinema porque não havia maneira de tapar as janelas», refere Vanessa Borges. As salas têm outros problemas: há pilares mesmo à frente e os estudantes são obrigados a sair dos seus lugares para ver as projecções, de pé, no fundo da sala. O telhado é de zinco e, quando chove, não se ouve o que o professor diz.
Estes estudantes estão isolados dos outros colegas da faculdade, o que provoca um «certo sentimento de ostracização», como diz Vanessa. Quando precisam de tirar fotocópias, consultar livros na biblioteca ou ir à secretaria têm de ir às instalações principais da Faculdade de Letras. «Não é fácil, porque não temos intervalos entre as aulas. Perdemos o ambiente da faculdade, o convívio com os outros, as informações que são afixadas», declara.
Três estudantes e membros do colectivo da JCP na instituição fala da situação – Catarina Martins, do 3.º ano de História de Arte; Vanessa Borges, do 3.º ano de Artes do Espectáculo; e Ana Félix, do 1.º ano de Filosofia.
«Os meus colegas falam do choque inicial quando entraram pela primeira vez na faculdade. Era tudo velho, escuro e sombrio. Tem poucas condições e pouca luz», diz Ana Félix. «Isto está mesmo a precisar de obras: há buracos, tectos e paredes a cair... Nas salas da cave está tanto calor que nos sentimos a sufocar. É horrível. Há janelas, mas têm grades e, se abrimos, vem muito barulho da rua.»
Apesar do início das aulas ter sido adiado, as obras nas casas de banho da cave prosseguem. Frequentemente os professores pedem aos operários para parar o trabalho para se fazerem ouvir. «Mesmo assim, não é fácil concentrar-nos», diz Catarina.
As refeições constituem outro problema. Os estudantes podem ir à cantina da Universidade de Lisboa, onde as refeições custam dois euros e incluem o prato, sopa, bebida, pão e sobremesa. Têm de caminhar cinco minutos até lá e depois esperar na fila até ser servido. Ou seja, é muito tempo para quem não tem hora de almoço. As refeições acabam por ser feitas nos vários bares privados da faculdade, onde os preços são muito mais altos. Os pratos custam mais de cinco euros e uma refeição completa fica a oito euros. Quem simplesmente coma uma sandes e beba um sumo paga três euros.
«Em três dias da semana, entro às 8 da manhã e saio às quatro da tarde, sem intervalos entre as aulas. Noutro dia, entro às 8h e saio às 18h, sem pausas», diz Catarina, mostrando como lhe é impossível ir à cantina.
História de Arte e Artes do Espectáculo
Os alunos de História de Arte têm um horário das aulas das várias disciplinas, mas as salas não foram atribuídas. No início de cada hora têm de se juntar no Instituto de História de Arte para saber para onde ir a seguir. Já tiveram aulas numa antiga biblioteca, mas as portas de vidro impediam que houvesse escuro, absolutamente necessário para projectar imagens. «Além disso, com pessoas sempre a passar no corredor, é difícil concentrarmo-nos», conta Catarina Martins.
Muitas vezes têm aulas na sala de mestrado do Instituto de História de Arte, com capacidade apenas para 20 pessoas e com pilares a meio. A turma tem cerca de 40 alunos, fora os que estão inscritos mas que não assistem às aulas com frequência. «A maior parte não vai por falta de espaço. Chegam, vêem que está tudo ocupado e vão-se embora. Os professores sugerem que nos sentemos no chão», recorda Catarina, sublinhando que, com estas condições, os estudantes se sentem desmotivados para ir à faculdade e estudar.
Os alunos de Artes do Espectáculo também não têm a vida facilitada. Este ano, passaram a ter aulas num pavilhão pré-fabricado no Campo Grande. «É melhor equipado, mas até há pouco tempo não conseguíamos ver as projecções de cinema porque não havia maneira de tapar as janelas», refere Vanessa Borges. As salas têm outros problemas: há pilares mesmo à frente e os estudantes são obrigados a sair dos seus lugares para ver as projecções, de pé, no fundo da sala. O telhado é de zinco e, quando chove, não se ouve o que o professor diz.
Estes estudantes estão isolados dos outros colegas da faculdade, o que provoca um «certo sentimento de ostracização», como diz Vanessa. Quando precisam de tirar fotocópias, consultar livros na biblioteca ou ir à secretaria têm de ir às instalações principais da Faculdade de Letras. «Não é fácil, porque não temos intervalos entre as aulas. Perdemos o ambiente da faculdade, o convívio com os outros, as informações que são afixadas», declara.